quarta-feira, 7 de maio de 2025

Por que você não consegue manter um hábito? A neurociência da mudança real

Você já começou uma nova rotina com toda a empolgação do mundo... e duas semanas depois, desistiu?

Você não está sozinha. Criar um novo hábito é desafiador, mas manter esse hábito ativo, dia após dia, é o verdadeiro ponto de virada. E a explicação para isso não está apenas na sua disciplina, mas no funcionamento do seu cérebro.



O que a neurociência diz sobre hábitos

Hábitos são padrões neurais criados pela repetição. Quando você realiza uma ação constantemente, seu cérebro economiza energia criando uma trilha automática para executá-la.

Mas para que essa trilha seja criada, você precisa passar por uma fase incômoda: o conflito entre o que é automático e o que é novo.

O cérebro busca recompensa rápida. Isso significa que, muitas vezes, ele prefere o prazer imediato (“rolar o feed”) a uma recompensa de longo prazo (“exercitar-se todo dia”).

Por que você desiste no meio do caminho?

  • Porque espera sentir vontade todos os dias (e isso não vai acontecer)

  • Porque começa com metas grandes demais, que seu cérebro interpreta como ameaça

  • Porque não associa o hábito a um gatilho pré-existente

  • Porque não celebra as pequenas conquistas


A neurociência mostra que a repetição, os reforços positivos e a previsibilidade são cruciais para consolidar uma nova conexão neural (Duhigg, 2012; Clear, 2018).

O poder das microações

Não é sobre fazer muito. É sobre fazer com intenção e constância.

Criar um novo hábito é como fortalecer um músculo: você não precisa levantar o peso mais pesado no primeiro dia, mas precisa aparecer.

Microações diárias ativam a neuroplasticidade, que é a capacidade do seu cérebro de mudar e se adaptar. Cada pequena escolha é uma mensagem para o seu sistema nervoso: “isto aqui importa”.

E se você ainda estiver esperando estar pronta?

Pare de esperar motivação. Comece com o que você tem.

A ação precede a confiança. E é o movimento que cria a energia.




Quer mudar? Então escolha uma ação simples e comece HOJE. Não importa o tamanho. Importa a intenção.

Seu cérebro não é seu inimigo. Ele é plástico, treinável e adaptável.

Mas você precisa repetir com paciência e persistência. A constância constrói identidade. E identidade mantém o hábito vivo.

Qual hábito você vai COMEÇAR e manter pelos próximos 30 dias? Escolha um. E lembre-se: o cérebro aprende com a repetição, não com a perfeição.


Referências:

  • Duhigg, C. (2012). O Poder do Hábito. Rio de Janeiro: Objetiva.

  • Clear, J. (2018). Atomic Habits. Avery.

  • Medina, J. (2008). O Cérebro - Manual do Usuário. Artmed.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Corpo cansado, mente acelerada: o que seu estilo de vida está tentando te dizer?

Você sente como se estivesse sempre correndo, mas nunca chegando a lugar nenhum? Seu corpo vive exausto, mesmo depois de dormir? Sua mente está acelerada, mas você não consegue realizar o que se propõe?

Isso não é preguiça, nem falta de força de vontade. É um sinal claro de desequilíbrio entre o que você vive e o que seu corpo precisa.

A ciência mostra que o estresse crônico, a falta de movimento e a hiperatividade mental comprometem o funcionamento dos sistemas cardiovascular, imunológico e neurológico (Sapolsky, 2004). Vivemos em um estado de "alerta constante", e isso tem um custo.

Os sinais que você não pode ignorar:

  • Cansaço físico que não passa com descanso;

  • Irritação frequente e ansiedade sem motivo aparente;

  • Falta de foco e memória fraca;

  • Sensibilidade emocional excessiva;

  • Sensação de estar sempre atrasada.

Esses sintomas são alertas do corpo pedindo pausa, reajuste e presença.

O que seu corpo está tentando te dizer?

O corpo fala, mas nem sempre ouvimos. A tensão muscular, as dores, a exaustão e o não dormir bem... tudo isso é comunicação corporal. A neurociência chama isso de "interocepção": a capacidade de perceber os sinais internos do corpo (Craig, 2002).

Quando ignoramos esses sinais, acionamos um ciclo de autossabotagem: nos cobramos mais, rendemos menos, adoecemos emocionalmente.

Como interromper o ciclo?

  1. Micro pausas conscientes ao longo do dia

    • Três minutos de respiração profunda ou alongamento já reduzem o nível de estresse (Zeidan et al., 2010).

  2. Reeducação do descanso

    • Dormir é essencial, mas descansar também envolve parar, contemplar e se desligar da produtividade (Walker, 2017).

  3. Movimento restaurativo

    • Não precisa ser academia: dança, caminhada, yoga e mobilidade ativam o sistema nervoso parassimpático, promovendo recuperação (van der Kolk, 2014).

  4. Alimentação como apoio emocional

    • O intestino produz mais de 90% da serotonina do corpo. Comer com consciência afeta diretamente o humor (Mayer, 2016).




Seu corpo não é frágil. Ele é inteligente. Ele fala com você o tempo todo.

E se, ao invés de lutar contra ele, você escolhesse escutá-lo?

Talvez a resposta que você procura esteja no silêncio entre um pensamento e outro. No momento em que você se permite respirar.

“Cuidar de si é um ato de coragem em uma cultura que venera a exaustão.”


Referências:

  • Sapolsky, R. M. (2004). Why Zebras Don't Get Ulcers. New York: Holt Paperbacks.

  • Craig, A. D. (2002). How do you feel? Interoception: the sense of the physiological condition of the body. Nature Reviews Neuroscience, 3(8), 655–666.

  • Zeidan, F. et al. (2010). Mindfulness meditation improves cognition: Evidence of brief mental training. Consciousness and Cognition, 19(2), 597–605.

  • Walker, M. (2017). Why We Sleep: Unlocking the Power of Sleep and Dreams. Scribner.

  • van der Kolk, B. (2014). The Body Keeps the Score: Brain, Mind, and Body in the Healing of Trauma. Viking.

  • Mayer, E. A. (2016). The Mind-Gut Connection. Harper Wave.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Você se perdeu de si? Como reencontrar sua essência em meio ao caos.

Em tempos de sobrecarga mental, emocional e digital, perder-se de si mesma não é raro. A correria do dia a dia nos empurra para fora da nossa própria presença. Sentimos cansaço constante, desconexão com o corpo e, principalmente, um vazio existencial que não se preenche com produtividade.

Segundo a neurociência, o excesso de estímulos e a constante sensação de urgência ativam o eixo do estresse crônico (HPA), liberando cortisol em níveis elevados e afetando a memória, o sono, a tomada de decisão e o bem-estar emocional (McEwen, 2006).

A desconexão consigo mesma não é apenas uma sensação subjetiva: é também uma desconexão entre corpo, mente e emoções. Ela se manifesta quando:

  • Seu corpo dá sinais (dores, fadiga, tensão), mas você ignora.

  • Seus pensamentos estão sempre voltados ao futuro ou ao passado, raramente no presente.

  • Suas emoções são reprimidas ou negligenciadas.

A psicologia positiva chama isso de "incongruência" entre o que vivemos e o que sentimos (Seligman, 2011).

Reconectar-se é um processo gentil, e não uma cobrança. Envolve silenciar o mundo de fora e ouvir novamente sua voz interior. Algumas práticas simples, com embasamento científico, podem te guiar:

  1. Respiração consciente (5 minutos diários)

    • Reduz o cortisol e melhora a atenção plena (Kabat-Zinn, 1990).

  2. Movimento leve e prazeroso

    • Caminhar, alongar ou dançar libera dopamina e ativa circuitos de recompensa (Ratey, 2008).

  3. Journaling

    • Escrever sobre o que sente ajuda a reorganizar pensamentos e a nomear emoções (Pennebaker, 1997).

  4. Contato com a natureza

    • Estudos mostram que 20 minutos por dia em ambiente natural reduzem estresse e aumentam o senso de vitalidade (Mayer et al., 2009).

Se você chegou até aqui, talvez esse texto seja o seu primeiro passo de volta. Voltar para si é um ato de coragem em um mundo que insiste em te distrair.

Talvez você não esteja perdida. Talvez você apenas precise lembrar quem você é.

“Não espere o mundo parar para cuidar de si. Comece agora. Com um passo. Com um gesto. Com presença.”


Referências Bibliográficas

  • McEwen, B. S. (2006). Protective and damaging effects of stress mediators: Central role of the brain. Dialogues in Clinical Neuroscience, 8(4), 367–381.

  • Seligman, M. E. P. (2011). Flourish: A Visionary New Understanding of Happiness and Well-being. New York: Free Press.

  • Kabat-Zinn, J. (1990). Full Catastrophe Living: Using the Wisdom of Your Body and Mind to Face Stress, Pain, and Illness. New York: Delta.

  • Ratey, J. J. (2008). Spark: The Revolutionary New Science of Exercise and the Brain. Little, Brown Spark.

  • Pennebaker, J. W. (1997). Opening Up: The Healing Power of Expressing Emotions. New York: Guilford Press.

  • Mayer, F. S., Frantz, C. M., Bruehlman-Senecal, E., & Dolliver, K. (2009). Why is nature beneficial? The role of connectedness to nature. Environment and Behavior, 41(5), 607–643.

 

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